Como se tornar escritor
Tornar-se escritor pode parecer difícil, mas na verdade é mais uma questão de postura que de sorte ou incrível talento. Talento ajuda, claro, mas ser escritor/a é saber usar os sentidos, observar o que existe em volta com clareza e utilizar isso na sua arte.
Muito se fala sobre as técnicas da escrita, há cursos e mais cursos de escrita criativa, escrita profissional, escrita persuasiva, como escrever roteiros… É tudo válido, escrever é um talento que pode, de fato, ser muito ampliado com a prática.
No entanto, ser escritor/a não é algo técnico meramente, e a meu ver depende de uma postura inicial muito particular, que explico abaixo.
Olhar como um detetive
Para ser um/a escritor/a é preciso olhar. Observar o que está em volta, registrar como as pessoas se comportam. Notar detalhes de roupas, gestos, reações que eu comparo ao modo de olhar de Sherlock Holmes.
Não só eu, aliás, já há livros inteiros dedicados à arte de observar o mundo com atenção, como Perspicácia, de Maria Konnikova.
Escritores reparam no que é esquisito, um pouco (ou muito) diferente, nas várias atitudes que compõem um modo de ser. Vivemos num mundo de desatentos, e olhar para o que existe, depois contar como entendemos aquilo que observamos, é escrever!
Muitas vezes o detalhe bem colocado é que convence os leitores quando se conta uma história. Não é o genérico, o abstrato, mas o detalhe inesperado e completamente convincente.
Stephen King, que é mestre em observar as pessoas, apresenta na série A Torre Negra, por exemplo, um mafioso que tem mania de fazer castelos de cartas (A escolha dos três). A descrição é tão acurada que o texto vira uma cena de filme, as cartas tremem com a respiração do bandido.
Tenho certeza absoluta que, para construir essa cena, o autor ficou hipnotizado observando alguém que gostava de empilhar cartas. Mais ainda, ele reparou que os movimentos e cuidados envolvidos em fazer castelos de cartas têm um componente um tanto maníaco, que combina com a cabeça de um bandido controlador como o personagem dele.
Ser escritor, assim, tem muito de imaginação, mas plantada no solo de uma observação atenta das pessoas (e animais, plantas, máquinas), uma curiosidade grande em ver como as coisas de fato acontecem em volta.
A observação vale também para quem quer escrever uma biografia, já que a vida de uma pessoa fica interessante apenas se mostrada em cenas vívidas, reveladoras. Até mesmo livros profissionais precisam desse olhar, uma vez que só dá para ensinar ou explicar algo se primeiro entendermos o que as pessoas precisam, o que elas querem.
O olhar de escritor pode bem se voltar para dentro. São muitos os escritores que mergulham em si mesmos para depois contar histórias – ou tecer reflexões. Só que, para funcionar, essa visão precisa ser nítida e reveladora, de raio X mesmo. Não tem muita graça aquele autor que conta a história de si mesmo sem acrescentar nada de inesperado ou incomum ou provocativo.
Veja aqui algumas dicas de como escrever cenas nítidas.
Ouvir como um antropólogo
Para ser um/a escritor/a é preciso ouvir.
Ainda mais hoje, em que tantas obras recorrem a diálogos para dar exemplos e agilizar a trama, a forma de falar de cada personagem precisa ser muito característica e convencer a quem lê.
Escritores reparam em como as pessoas falam, as expressões que gostam de usar, a forma como palavras podem ser gritadas ou sussurradas ou resmungadas. Escritores se divertem em imaginar como é a vida de quem diz uma frase diferente num shopping, qual a história da pessoa que tem um sotaque, como o som do nome combina (ou não) com o rosto.
Ser escritor/a é ouvir com atenção. Fora que cultivar esse hábito tem a vantagem adicional de fazer com que as pessoas falem mais de si mesmas, contem suas histórias, fornecendo material para a sua imaginação.
Adote como hábito prestar atenção em como as pessoas falam, que palavras utilizam. Grave conversas aleatórias em locais públicos, garimpe expressões incomuns e marcantes. Sua escrita vai crescer.
Ter a intuição de um mergulhador
Para ser um/a escritor/a é preciso mergulhar. No que os outros dizem. No que não dizem, como comenta o mediador William Ury (lá pelo minuto 5 dessa TED talk). Na razão pela qual fazem as coisas ou deixam de fazer, nas suas emoções.
Mergulhadores são pessoas inquietas, que não se contentam em viver como o restante de nós, em terra firme. Não só se metem na água como insistem em ir fundo nela, para ver paisagens diferentes, lindas, assustadoras.
Ser escritor é ter a capacidade de fazer algo parecido, de intuir quais são os medos, os desejos, aquilo que move as pessoas. Esse entendimento mais profundo faz surgir histórias que ressoam, que têm relevância, porque leitores sentem que uma parte sua muito real, e em geral oculta, está ali.
Podemos ter uma cabeça muito inteligente, mas não é isso que nos torna bons escritores. Inteligência ajuda, mas a compreensão daquilo que realmente movimenta cada pessoa – e cada pessoa é um universo diferente, cheio de brilhos e sombras – é o que dá recheio a uma obra. E a forma de chegar lá é seguir a própria intuição.
Eu sempre sugiro que ler é a melhor aula para se tornar um escritor, uma escritora. Ao ler outros autores, temos como experimentar diferentes modos de ver o mundo.
Francine Prose, autora de Para ler como um escritor, diz bem isso:
“A vantagem de se ler bastante em lugar de postular uma série de regras genéricas para a escrita é que aprendemos que não há regras genéricas, apenas exemplos individuais que ajudam a mostrar o caminho por onde talvez você queira seguir.”
Assim, sugiro uma leitura que eu adorei, e que para mim dá um exemplo perfeito de como olhar com atenção, como escutar, como intuir o que está por trás das aparências. Não é um livro de dicas para escritores, mas a história de um cachorro que observa seu dono: A arte de correr na chuva, de Garth Stein.
Para mim ressoou muito, o cachorro da história a umas tantas me fez chorar bastante. O que me mostra que o autor, Garth, é um escritor que sabe o que faz.
Se você tem vontade de ver mais algumas dicas, tenho um curso leve, rápido, sobre como começar a escrever.
Se quiser comentar o que acha, ficarei feliz em saber.
Gabriel Filgueiras
15 de maio de 2018 @ 11:02
“Ser escritor/a é saber usar os sentidos, observar o que existe em volta com clareza.”
Poderia destacar aqui muitas frases boas deste seu artigo, mas como agora estou lendo aqui desse ruindows Phone 8.1 bem ruinzinho só destaquei essa rsrs.
Me identifiquei com muitas características que você descreveu, o que já me deixa muito feliz 🙂
Está muito interessante seu artigo.
Laura Bacellar
5 de julho de 2018 @ 12:00
oi Gabriel,
que bom que vc gostou.
Super boa sorte!
Camila Fragas
18 de setembro de 2018 @ 20:25
Eu até que crio muito bem a historia, mas na hora de dividir a historia em partes me perco toda. E o que deveria ser um livro, vira apenas uma historia de muitos parágrafos , sem muitas paginas.
Laura Bacellar
11 de outubro de 2018 @ 14:17
Camila,
leia mais. Com certeza outros autores deram soluções variadas para a continuação da trama, como quebrar a história em partes, como manter o suspense. Escritores são os melhores professores, leia com atenção obras que a interessem e veja o que os autores fizeram para manter sua atenção.
Ana
2 de outubro de 2018 @ 17:37
Oi Laura, tenho uma página do facebook e Instagram onde publico meus textos, que são crônicas. Costumo dizer que são reflexões de uma mulher de quarenta que se aventura em meio às palavras. Se quiser dar uma olhada e me expor sua opinião eu ficaria muitíssimo grata.
Sinto um enorme prazer em escrever e procuro escrever com paixão, pois ali está o meu sentir sobre o mundo. Estou começando, mas pareço estar indo bem. Obrigada pela ajuda. Att., Ana
Laura Bacellar
11 de outubro de 2018 @ 14:13
oi Ana,
vá firme. Poste sempre e veja com cuidado as reações de seus leitores. Veja o que causa respostas, perguntas, compartilhamentos. Quando você acerta o tom, os temas, a forma de dizer o que importa, está feito o contato mais essencial e duradouro com seu público.
Ana Klessia
25 de novembro de 2018 @ 00:32
Gostaria apenas de uma direção para conseguir ser uma escritora de sucesso,não apenas com o público,mas com editoras!
Laura Bacellar
25 de novembro de 2018 @ 01:22
Preste atenção às pessoas, Ana. Escreva o que importa para elas.
Daniele
14 de fevereiro de 2019 @ 03:49
Obrigada pelas palavras,me ajudou e me identifiquei muito em ser uma! Só não sei por onde começar 🙂
Laura Bacellar
14 de fevereiro de 2019 @ 10:52
dou algumas dicas em outra postagem, vc já viu?
https://www.escrevaseulivro.com.br/como-comecar-a-escrever/
Solange AparecidaFoglietto
27 de dezembro de 2019 @ 12:26
Muito interessante, sempre que leio tenho muita inspiração, assim como a tenho no cotidiano, como vc disse, na observação de tudo que acontece a minha volta, pessoas, animais, natureza, amores… mas costumo escrever na forma de poema ou poesia.
Me identifiquei muito com suas colocações.
Obrigada.
Poliana
26 de fevereiro de 2019 @ 14:42
Amei a matéria!
Há tempos estou querendo escrever um livro; tenho idéias, mas elas acabam não fluindo. Seu texto me fez ter uma noção do que precisa ser feito antes de querer algo tão grande. Sinto que você me ajudou e me sinto grata por isso.
paloma praxedes da silva
21 de março de 2019 @ 13:01
amo escrever e quero ter um livro para todos ver minha historia
paloma praxedes da silva
21 de março de 2019 @ 13:08
gosto muito de escrever por quero virar escritora
paloma praxedes da silva
21 de março de 2019 @ 13:18
quero ser escritora
jose francisco Ribeiro
15 de abril de 2019 @ 19:37
sou Nordestino do estado do piauí gostaria muito de uma ajuda
para escrever minha estoria de vida vim para São paulo na década de 80
sou fri muito e gostaria muito de conta minha estoria de vida e superação
sou muito grato a Deus por tudo
Cibbely Olivares
22 de julho de 2019 @ 09:50
Amo história,um dia poderei ser escritora a literatura tem suas vantagens e não quero que meu sonho seja um problema ruim de se lidar. Amo escrever.
Sou bastante interessado em literatura acho que vou ser uma ótima escreitora. ☺
MELISSA RIBEIRO
1 de outubro de 2019 @ 00:26
ADOREI MESMO QUERENDO SER UMA ADVOGADA ISSO ME FEZ UMA MINHA VIDA MUDAR AMO ESCREVER COISA SOU APAIXONADA
Manuel Pita
4 de abril de 2020 @ 19:02
Eu quero aprender a ser um escritor, por que sou um poeta e quero escrevo meu livro poemas.
Por enquanto em tudo, espero que me aceitei me dão algumas dicas essenciais para começar a escrevo um livro…
Creusa Paulina de Jesus Bassine
30 de abril de 2020 @ 23:32
Gostaria muito de começar escrever um livro , sou enfermeira . Não sei por onde começar ?
Antonio Carlos Costa
4 de maio de 2020 @ 13:58
Boa tarde!
Meu nome é Antonio Carlos Costa, gostaria de escrever a minha história de vida (minha infância). Como faço?
Laura Bacellar
5 de maio de 2020 @ 13:47
no minuto 22 começo a falar de biografias, veja se ajuda https://youtu.be/ZhBY0u9_HRc
Gabriela
11 de maio de 2020 @ 12:34
Seu documentario me ajudou muito.
OBRIGADA
victoria
26 de maio de 2020 @ 18:27
ja comecei um livro porem nao sei como devo continuar,pode me ajudar em algo????
Laura Bacellar
1 de junho de 2020 @ 12:10
Tenha coragem e siga!
https://www.escrevaseulivro.com.br/como-comecar-a-escrever/
Nayara Yasmin
12 de agosto de 2020 @ 11:52
Amei o seu artigo, muitas dessas falhas me identifica, pois quando tenho muitas idéias de temas de livros fico muito entusiasmada em escrever, mas muitas das vezes não escrevo tudo pois são muitas idéias que surgem, e fico perdida no que escrevi. Apesar de eu ser muito jovem, amo escrever e ler livros e espero um dia ser uma escritora.
Obrigada seu artigo me ajudou muito…
Nadine raiane da Silva Soares
11 de dezembro de 2020 @ 16:34
Eu amo tudo relacionado a ler e escrever.
A literatura trouxe pra minha vida um novo colorido..uma outra visão sobre a vida.
Escrever pra mim vai além de tudo.
São nas folhas escritas que eu coloco eu sentimento…Minha dor…e minha visão sobre a vida.
Ster
19 de fevereiro de 2021 @ 13:43
Explicação inspiradora. Vim buscando uma resposta porque hoje senti a vida a minha volta pulsar de uma forma diferente, um olhar fixo e calmo para os detalhes, refletindo em sentimentos, trazendo a saudade de pessoas, momentos vividos, então respirei fundo, peguei meu caderno e escrevi…Pensei, talvez é isso, me senti viva por um momento, como se tudo fizesse sentido agora, como se isso por um momento fizesse de mim escritora!
Jezz
27 de abril de 2021 @ 20:48
Que texto rico, envolvente, bem elaborado.
amei as dicas.
Maria
25 de agosto de 2021 @ 14:04
Ótimo artigo, parabéns.
Inacio
28 de agosto de 2021 @ 05:35
Dicas importantíssimas que aqui aprendi.
Vou começar a colocar minhas aventuras/fantasias em papel e lutar para conseguir me tornar um escritor.
Eloisa
14 de setembro de 2021 @ 14:01
Olá,eu tenho 15 anos de idade eu amo ler livros de mistério e suspense,quando é para escrever uma história que a professora nós pede,eu consigo escrever facilmente,as palavras vem na minha mente e a história me vem na mente e as histórias que escrevo vão se desenrolando,como se desenrola um rolo de pano.mas eu não sei se vou querer trabalhar como escritora,como vou saber se eu quero ser uma escritora ou não?
Laura Bacellar
15 de setembro de 2021 @ 10:56
experimente escrever histórias e publicar no wattpad, que é gratuito. Se vc gostar de escrever e os leitores gostarem de ler, dúvida esclarecida.
Rosa Teresa
12 de outubro de 2021 @ 07:22
Adorei ler esta magnífica obra.
Procuro escrever com amor e carinho.
Mas muitas vezes me desanimo, acho que meus textos não servem para ser publicados.
Guift joshua Chauque
4 de dezembro de 2021 @ 18:04
Como SE cria o seu proprio livro
Tucha Figueiredo
28 de dezembro de 2021 @ 05:43
Eu ameeeei , estou escrevendo um livro. Mas, após ter lido essa obra, percebi que preciso dessas ferramentas todas sobre o olhar, o ouvir, o mergulhar… embora ter percebido que ja existe em mim esses hábitos. Só que, nunca tive consciência da sua importância quando bem desenvolvidos, hoje alegro-me porque vou fazer diferente
Muito obrigada!