11 lições da aranha para escritores
A aranha, aquele ser de oito patas que assusta muita gente, é nas mitologias de muitos povos um símbolo de criatividade, escrita e invenção de histórias.
Para os gregos era uma linda tecelã, Aracne, que deixou Atena enciumada por ser melhor do que a deusa.
Foi então transformada na aranha, mas continuou sendo a melhor tecelã que existe, e os gregos sempre acharam que tecer tapetes era muito parecido com tecer histórias.
Em lendas africanas a aranha aparece com frequência como Anansi, um homem cheio de manhas e humor que ensina de forma enviesada. Para os índios norte-americanos é a avó que trouxe a luz do sol para a terra e ensinou o idioma.
Para os druidas é um animal sábio que deve ser observado com cuidado, pois tece a consciência – e as histórias – em oito direções diferentes.
É a guardiã dos idiomas e dos alfabetos e em suas teias estão escritas todas as letras.
Eu, como editora, vejo também semelhanças entre o ato da escrita e o trabalho das aranhas tecedeiras.
Com certeza, elas não entendem nada de editoras, mas sua abordagem para armar teias pode ser muito instrutiva para quem deseja escrever. Veja só.
Lição aracnídea número 1
As aranhas fazem suas teias muito rapidamente.
Em meia hora ou quarenta minutos, mesmo aquelas teias grandes e lindamente geométricas ficam prontas.
O recado para escritores é: trate de escrever o que você pretende rapidamente e chegar ao término de seu projeto. Escrever livros não é um trabalho para se estender por toda a vida, mas algo pontual e com um fim em vista.
Lição aracnídea número 2
As aranhas fazem teias apoiadas em algum lugar.
Repare que mesmo as teias mais intrincadas precisam ter várias linhas que as ancorem a pedras e árvores, de modo que não se rompam com o impacto do inseto.
O equivalente na escrita é a ligação com a realidade.
Mesmo a ficção mais delirante, a poesia mais fantasiosa, precisa ter linhas firmes e resistentes de conexão com o mundo real, para que o leitor não escape da leitura por achar o perfil psicológico do personagem impossível ou sua ação deslocada em relação aos acontecimentos apresentados.
Lição aracnídea número 3
As aranhas fazem teias para capturar insetos.
Esses animais não perdem tempo fazendo teias para outra coisa que não seja enriquecer sua dieta de proteínas.
Na escrita, isso quer dizer uma preocupação em construir tramas para capturar a imaginação do leitor e nada mais.
Charmes estilísticos, efeitos literários, citações profundas devem ser todas deixadas de lado se não contribuírem para enredar o leitor na história.
Lição aracnídea número 4
As aranhas constróem suas teias onde há insetos.
Nossas práticas professoras se empenham em armar suas redes onde muitas vítimas em potencial voejem, pulem ou passeiem.
O que escritores devem aprender com isso é escrever suas histórias para públicos que existem, ou seja, grandes grupos de pessoas que possam se interessar por aquele tema e abordagem.
Lição aracnídea número 5
As aranhas fazem teias invisíveis.
É evidente que o inseto não pode enxergar a teia antes de bater de encontro a ela, ou simplesmente fará um desvio em seu plano de vôo.
Do mesmo modo, se o leitor perceber como a trama foi construída – com excesso de lógica ou pouco suspense, por exemplo – certamente perderá o interesse e escapará da leitura.
Lição aracnídea número 6
As aranhas refazem suas teias sempre que necessário.
Se você jogar talco numa teia para enxergá-la, dali a pouquinho sua proprietária a desmanchará e fará uma nova teia, mais leve e menos visível.
Se você romper um dos fios da teia, a aranha também se apressará em tecê-lo de novo.
Ensina assim ao escritor que, quando sua obra deixa de funcionar por alguma razão, a abordagem eficiente é desmanchá-la e refazê-la, sem pena pelo que não cumpre mais sua função.
Lição aracnídea número 7
As aranhas não ficam presas em suas próprias teias.
Apesar de a maioria dos fios das teias serem pegajosos, as aranhas sabem onde colocar suas oito patas para não ficarem presas em suas construções.
O escritor-aranha aprende com isso a não ficar fascinado com seu próprio trabalho, mas tratá-lo como uma ferramenta útil para atingir seu objetivo: capturar a imaginação do leitor.
Lição aracnídea número 8
As aranhas fazem muitas teias.
Uma vez que necessitam de bastante proteína, as aranhas precisam caçar uma quantidade respeitável de insetos por dia.
Sendo assim, não perdem tempo em fazer nova teia assim que terminam uma refeição.
O recado dado a você, escritor, é fazer muitos projetos, escrever bastante, incorporar a escrita às suas rotinas diárias para conseguir atingir o objetivo de criar bastante e ter muitos leitores.
Lição aracnídea número 9
As aranhas reagem quando sentem movimento nas teias.
Quando um inseto fica grudado na teia ou há algum choque contra os delicados fios, as aranhas vão lá rapidamente ver do que se trata, acabando de liquidar o bicho se for uma vítima ou reparando a teia se tiver acontecido um acidente.
A lição para o escritor é a de prestar atenção na reação causada pela sua escrita. Se ela capturou o leitor, ótimo, continue. Se aconteceu algum outro evento não tão bom, tome providências e refaça a teia.
Lição aracnídea número 10
As aranhas fazem teias próximas umas das outras.
Este ser inteligente repara quando alguma irmã ou prima faz uma teia num lugar interessante, com uma boa corrente de ar para trazer insetos incautos, e constrói a sua ali perto.
É muito comum vermos um canto propício para a caçada aracnídea com uma comunidade inteira de aranhas e teias.
O escritor que deseja se beneficiar dessa sabedoria vai olhar em volta e ver o que seus colegas escritores andam fazendo.
Se algo parece funcionar e combina com o seu estilo, dá para criar na mesma frequência para capturar os mesmos leitores. Ninguém existe sozinho no universo.
Lição aracnídea número 11
As aranhas usam as teias para guardar seus ovos.
Teias não são apenas instrumentos de caça mas também o lugar onde a aranha coloca seus ovos.
O escritor aprende com Aracne que suas histórias têm o potencial criativo de trazer vida nova se forem bem tecidas e usadas.
Desejo-lhe boa sorte e um futuro cheio de teias eficentes!
Matheus Anier
8 de janeiro de 2016 @ 16:24
Parabéns, são ótimas suas dicas. Seria muito interessante fazer uma postagem relacionada com a Águia! Abraço.
Caio Amaral
14 de julho de 2016 @ 17:01
Sua maneira de escrever é muito agradável e instrutiva. Essa história de aranhas me lembrou “O Vendedor de Histórias” do norueguês Jostein Gaarder, nela também existe uma relação entre o protagonista, que é um escritor, com as aranhas (embora não da mesma forma que você utilizou nessa postagem)
Agradeço suas dicas, esse blog acabou sendo um grande achado para mim.
Laura Bacellar
29 de janeiro de 2018 @ 13:32
oi Caio,
muito obrigada, espero que sua escrita seja inspirada e ande longe!
Everardo de Aguiar Lopes
21 de janeiro de 2018 @ 11:40
Criativo a observação da aranha na construção da história. Obrigado!
Laura Bacellar
29 de janeiro de 2018 @ 13:07
oi Matheus,
a águia é um animal maravilhoso mesmo, se formos invocar a visão que ela tem, de fato vai ser uma postagem linda.
Comente o que você acha dela…
Ana
12 de janeiro de 2020 @ 07:58
Bom dia desde criança eu amo livros dizia ser escritora, mas tenho muitas ideias c omečo escrever e abandono, penso q. Não fara suscesso…..