Por que fazer um Curso de Escrita Criativa?
Para muitas pessoas que pensam em se tornar escritores, a própria noção de que existam cursos de escrita criativa pode parecer estranha.
Desde sempre nos foi inculcado o mito do artista inspirado e torturado, que sozinho em seu quartinho vive em função de revolucionar a literatura e superar a tradição. No entanto, esta concepção não passa de exatamente disto, de um mito.
Pense numa sinfonia, que seria o equivalente musical de um romance, ou seja, uma obra longa e complexa e que exige muito tempo, dedicação e competência do compositor.
Será que uma pessoa completamente leiga no assunto pode se sentar e compor uma sinfonia decente sem qualquer tipo de conhecimento musical? Esta é a pergunta que lhe proponho.
“É evidente que não”, imagino que será a sua resposta, pois muita gente sequer tem ideia de qual é a estrutura musical de uma sinfonia, tampouco conhece os princípios básicos de composição para tal tarefa.
Mesmo sabendo que precisamos utilizar as notas musicais (Dó, Ré, Mi, e assim por diante), precisaríamos de muitas outras ferramentas, técnicas e conhecimentos especializados.
E isto vale para praticamente qualquer outra forma de expressão artística, seja na pintura, na escultura, no cinema, na fotografia, na dança, ou no teatro.
Uma bailarina não é alguém que simplesmente sobe num palco e sai dando piruetas; para chegar a este nível, foram anos – às vezes uma vida inteira – dedicados a aprender e refinar as técnicas artísticas.
E por que na escrita isto é diferente? O que leva as pessoas a pensarem que um escritor prescinde de estudo e aperfeiçoamento? Por que apenas a literatura é o terreno da inspiração pura, sem necessidade alguma de conhecer e dominar as técnicas narrativas?
No século IV a.C., o filósofo Aristóteles foi o primeiro pensador a codificar a poesia e a determinar alguns de seus aspectos essenciais.
Desde então, a obra dele A Poética é uma das referências mais essenciais para qualquer escritor e se converteu no texto que inaugurou uma nova tradição para interpretar, mas acima de tudo para produzir, textos literários.
Toda a Literatura deste ponto em diante deve muito às observações e conclusões de Aristóteles, e embora ele estivesse apenas analisando a produção poética de sua época, como a tragédia, a comédia e a epopeia, ele também ditou os rumos de toda a literatura futura no Ocidente.
De certo modo, Aristóteles poderia ser considerado o pai da escrita criativa, o primeiro a isolar e expor os princípios e as técnicas narrativas literárias, e como podemos utilizá-los para produzir uma obra coerente e convincente, que emocione o leitor e, acima de tudo, que mereça ser lida.
É lógico que não havia cursos de escrita na Grécia Antiga, aliás, este é um fenômeno particularmente recente.
Na verdade, a própria educação universal é algo bastante moderno, iniciada no século XIX. Antes disto, boa parcela da população mundial era completamente analfabeta, recebendo apenas a instrução prática básica para o ofício que realizaria, fosse para ser pedreiro, padeiro ou sapateiro.
A escolarização era destinada exclusivamente para a elite ou para a classe sacerdotal; a plebe não precisava ser instruída, aliás, quando menos fosse educada, melhor, pois seria mais facilmente manipulada pelas classes dominantes.
Este cenário mudou e hoje, com a crescente especialização dos saberes, muitas vezes nem a faculdade basta. É fundamental continuar se aperfeiçoando, fazendo um MBA, um mestrado, um doutorado, cursos de qualificação e o que mais houver no caminho.
E algo parecido também tem ocorrido no mundo da literatura, com o advento dos cursos de escrita criativa.
Uma Breve História dos Cursos de Escrita Criativa
Os cursos de escrita criativa como conhecemos hoje são um fruto claro da cultura norte-americana. Inicialmente, escritores se reuniam para debater literatura e escrita, isto ainda no século XIX, incluindo grandes nomes de autores transcendentalistas como Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau e Nathaniel Hawthorne, mas, posteriormente, tais encontros migraram para o interior dos muros das universidades.
Alguns dos mais renomados cursos de escrita criativa, como o Iowa Writing Workshop (de onde saíram 16 ganhadores do Prêmio Pulitzer) ou das universidades de John Hopkins ou de Stanford, foram criados em meados dos anos 30 e 40, mas se tornaram de fato influentes após a Segunda Guerra Mundial, quando veteranos retornaram dos campos de batalha e foram admitidos nestes cursos, onde encontraram a voz e os meios para expressarem todo o horror que presenciaram durante a guerra.
Logo, tais cursos se espalharam pelas universidades norte-americanas e se popularizaram – estima-se que haja mais de 500 cursos de escrita criativa atualmente nos EUA –, a tal ponto que hoje é incomum deparar-se com escritores americanos, publicados ou não, que não tenham passado por algum curso de escrita e recebido o seu certificado de M.F.A (Master in Fine Arts) em Escrita Criativa.
Enquanto que a ideia inicial era auxiliar os escritores a encontrarem sua voz própria e refinarem o seu estilo, hoje se tornaram quase um pré-requisito para qualquer um que leve a carreira à sério nos EUA, e é no interior destes próprios cursos que muitos deles entram em contato pela primeira vez com influentes profissionais do mercado editorial, como agentes literários e editores, e alguns inclusive terminam os cursos com um contrato de publicação fechado.
A primeira questão que imediatamente surge é: mas estes cursos formam grandes escritores?
Assim como há muitos milhares de escolinhas de balé pelo mundo e nem todas as crianças se tornarão as bailarinas principais do Bolshoi, muitos dos alunos de escrita também não se consolidarão, pois a carreira literária depende de muitos fatores externos além da qualidade da escrita.
Entretanto, ao repassarmos alguns dos nomes que lecionaram em cursos de escrita, como Philip Roth e Kurt Vonnegut, bem como alguns dos que estudaram em tais cursos, como Raymond Carver, Joyce Carol Oates (constantemente indicada ao Prêmio Nobel de Literatura), Donald Barthelme e John Irvine, é possível compreender que, mesmo que a maioria dos alunos não venha a se tornar celebridades literárias, os que se destacaram já legitimariam este tipo de formação.
Posteriormente, os cursos de escrita criativa se disseminaram pelo mundo, principalmente no Reino Unido, onde o da universidade de East Anglia se tornou o mais célebre e que formou grandes autores britânicos como Kazuo Ishiguro e Ian McEwan.
No Brasil, as oficinas e cursos de escrita criativa têm uma história mais recente e a mais tradicional delas tem pouco mais de 30 anos. É improvável que elas atinjam o grau de popularidade que têm nos EUA, embora qualquer autor comprometido com a escrita e com a carreira literária possa se beneficiar muito em despojar-se de seus preconceitos e abrir-se para o aprendizado das técnicas literárias.
É possível aprender a escrever?
Recentemente, descobri uma palavra nova: juvenília.
Eu já conhecia bem o conceito, mas não sabia que existia um termo específico para designá-lo.
Juvenília são aquelas obras produzidas por escritores durante a infância ou juventude e são essenciais por incontáveis motivos. Um deles, porque são valiosos registros históricos e biográficos; mas também porque nos revelam uma das verdades fundamentais da carreira literária.
Ninguém nasce pronto.
Todos nós começaremos escrevendo textos tolos e inconsistentes. Todos copiaremos, ou melhor, nos “inspiraremos” naqueles escritores que admiramos. Todos produziremos textos que não merecem ser publicados nem sequer lidos.
Pense na escrita como um processo, não como um fim. E o fato é que passaremos nossas vidas inteiras perseguindo um ideal de perfeição que jamais atingiremos.
Isto tem muito a ver com a pergunta que eu lhe proponho: é possível aprender a escrever?
Como podemos observar na juvenília de grandes autores consagrados, a resposta mais evidente é: sim, podemos aprender a escrever.
Este aprendizado ocorre de três maneiras básicas.
- através de um crescimento interno, de transformações próprias de nossa concepção de mundo e como expressá-la através da palavra escrita. É um movimento de dentro para fora.
- através da leitura de obras que nos inspiram, com a qual nos emocionamos, que nos transformam. É uma influência externa que internalizamos e que, ao longo de muitos anos de leitura e releitura, forja também a nossa escrita.
- Por fim, o aprendizado com os outros, sejam escritores ou não. A História na nossa espécie humana é também, em grande medida, a História da educação. Desde os tempos mais remotos, o conhecimento era legado de uma geração à outra, através de tradições ou rituais. Hoje, vamos à escola quando temos de adquirir novos conhecimentos, seja para aprender Física, Matemática ou Inglês.
Nas Artes, também não era diferente. Os grandes gênios da pintura ou da música geralmente foram aprendizes de outros grandes pintores ou músicos. Nos séculos XVIII e XIX, proliferaram-se escolas de Belas Artes para ensinarem as técnicas de pintura, e geralmente foi neste cenário que se deu o embate entre tradição e vanguarda.
Mas podemos dizer o mesmo sobre a escrita? O grande escritor não é aquele que aprende sozinho, em reclusão, como solucionar os problemas com os quais se depara ao longo da escrita?
Talvez um dos preconceitos mais daninhos para muitos iniciantes na escrita literária é o de que um autor deve ser um gênio solitário e incompreendido.
Uma rápida consulta às biografias de grandes escritores basta para nos revelar que a vasta maioria deles se beneficiou imensamente do contato com outros autores e, muitas vezes, da tutelagem de escritores mais experientes.
E se formos pensar no cenário norte-americano mencionamos anteriormente, que é o maior mercado literário do mundo, o maior produtor de best-sellers e com 12 prêmios Nobel de literatura em seu histórico, podemos observar uma tremenda especialização da escrita literária.
Hoje, para quem deseja aprender, há muitas opções de cursos de escrita criativa, tanto em faculdades quando on-line. Não há desculpas para não se aprimorar.
Mas o que é ensinar a escrever?
Antes de tudo, o ensino da escrita literária se trata de pôr o escritor em contato com uma vasta gama de técnicas e princípios narrativos que foram desenvolvidos e utilizados ao longo de séculos de escrita literária.
Se formos pensar na Literatura ocidental, começando com Homero até os nossos dias, é possível identificar padrões e técnicas narrativas recorrentes, e muitas delas ainda são utilizadas hoje, não apenas na literatura quanto no cinema ou até em videogames.
Portanto, a melhor maneira para se desenvolver como escritor é adotar ativamente estes três modos: o interno e pessoal, através da leitura dos grandes autores em seu segmento e pelo aprendizado consciente das técnicas literárias.
Em 2016, a Laura Bacellar e o Sidney Guerra me convidaram para conceber e realizar um Curso de Escrita Criativa em parceria com o Escreva Seu Livro.
Munindo-me da minha experiência de 10 anos organizando oficinas literárias e de editor independente, contribuindo para o aprimoramento de centenas de autores tanto no Brasil quanto em Portugal, compilei muitas das principais e mais eficientes técnicas narrativas para ajudar você a organizar suas ideias e escrever seu livro.
Em 28 aulas divididas em 4 módulos, abordaremos todas as etapas da escrita de um livro, desde a concepção, princípios básicos da escrita, construção de personagem e enredo, até como revisar seu manuscrito para, enfim, tentar a publicação por uma editora ou independentemente.
É possível aprender a escrever melhor, mas, antes disto, é preciso pôr-se em uma posição de humildade e reconhecer que sempre haverá mais para se conhecer.
Os grandes escritores são justamente aqueles que se põem em perpétua posição de fragilidade e reinvenção. São eternos aprendizes.
Gostou do que leu? Quer saber sobre nosso curso de Escrita Criativa? Clique aqui para saber mais sobre ele!
Gicelda Andresa
21 de fevereiro de 2017 @ 10:56
Muito boa a matéria, ma ficou uma dúvida: como adquirir o curso? Somente se eu me inscrever em ” escreva seu livro”, terei direito a fazer o”Curso de escrita criativa” ??
Qual o valor do curso?
Sidney Guerra
21 de fevereiro de 2017 @ 17:00
Olá Gicelda. Esse é o link para o curso: http://www.escrevaseulivro.com.br/venda-escrita-criativa/
abraço
Sidney Guerra
JOSÉ FLORÊNCIO DA COSTA
12 de outubro de 2021 @ 11:20
Ando já escrevendo desde 2015. Primeiro lancei um livro de memórias e nos anos seguintes: coisas da atualidade reinante no país sério ou não chamado Brasil. Faço livros independentes, isto é, por minha conta e graça. Concentro nos mesmos, um conteúdo que julgo o melhor em destaque na vida nacional. Fico como que livre para contar a história que vai passando no gigante adormecido. Hoje, mais adormecido ainda, por conta da Covid-19 que tem tomado conta da vida dos brasileiro, de ponta a ponta da geografia brasiliana. Não me apego à ficção e navego simples e positivamente na cruenta realidade da terra de pindorama.
Nos meus livro, sinto a necessidade de seguir as orientações do ESCRITA CRIATIVA, que corrobora, sem a menor dúvida, a realização e aperfeiçoamento do MUNUS da escrita. Um caminho que seguido, poderá coroar uma grande vitória na pena de cada escriba ou bom escritor. Por tudo isso, vou deixando aqui os merecidos parabéns pela boa ideia e execução de efetivo curso. Paz e bem!