O sucesso de autores estreantes
Alessandra Gelman Ruiz é editora da Gutemberg, selo editorial do grupo mineiro Autêntica, que publica em áreas variadas – de acadêmicos a quadrinhos – e investe de maneira consistente em autores nacionais.
Alessandra combina com esse perfil, tendo trabalhado em editoras muito diversas, como Gente, Alaúde, ProLíbera e Mercuryo, sempre com um olho para as possibilidades de brasileiros. “É pedreira” diz ela sobre trabalhar com autores daqui, que não vêm prontos, não conhecem o mercado, mas na opinião dela valem a pena.
A Gutemberg tem no catálogo algumas autoras de enorme sucesso, como Paula Pimenta e Bruna Vieira, e Alessandra conta aqui o que ela pensa ser necessário para que escritores estreantes sigam o mesmo caminho.
Qualidade
O texto precisa ter uma qualidade intrínseca. Alguns autores escrevem muito, trabalham sua escrita, fazem cursos. A Paula Pimenta, por exemplo, estudou roteirização e sabe manejar o suspense, deixa ganchos no final de cada capítulo para que a leitura fique interessante. Dá para perceber quando o autor trabalhou um pouco a técnica, quando presta atenção no que escreve.
O autor precisa ter repertório, ter lido muito, saber o que outros já escreveram. Tem gente que manda um texto achando que aquilo é uma grande descoberta e no entanto há vários livros já publicados com o mesmo tema. É preciso originalidade.
E tenho visto autoras fazerem sucesso porque falam de uma realidade que os leitores entendem, se identificam. Falam da escola aqui no Brasil, não de highschools. Falam de andar no shopping, dar festa de quinze anos como é aqui, em Belo Horizonte, em São Paulo.
Plataforma
Não adianta simplesmente escrever um livro, mesmo que tenha qualidade. É preciso ter um argumento para colocar o livro na livraria.
No nosso mercado algo como dois mil novos títulos são publicados todos os meses, menos em dezembro e janeiro. Onde uma megastore vai colocar tudo isso? Não cabe. Ou seja, as livrarias escolhem entre esses lançamentos todos só duzentos, no máximo trezentos livros.
Eles cadastram todos, mas pegam apenas um décimo dos lançamentos para ter na loja. Por isso fica aquele sistema de você encomendar e o livro chegar depois.
Os grandes grupos editoriais conseguem colocar mais títulos nas livrarias, claro, nós inclusive. Como temos alguns bestsellers, os livreiros prestam mais atenção em nosso catálogo. Não todos, depende da rede e do lugar. Livros acadêmicos do nosso selo Autêntica não precisam ser colocados em todas as livrarias, o comportamento do leitor universitário é diferente. Mas os livros de entretenimento sim, e por isso precisam desse argumento a mais para se diferenciarem de tantos outros milhares.
Hoje a livraria vende espaço, não livros. Eles querem rentabilidade por cada centímetro quadrado de loja. A decisão deles em colocar um livro ali, mesmo um dos nossos, depende muito do que vendemos no passado recente. Eles olham as planilhas para avaliar.
O autor precisa, então, além de escrever bem, ter uma plataforma. Se ele for ator da Globo, ótimo, isso ajuda. Mas não precisa, ele pode ter ganhado prêmios literários, ter um blog, atuar em redes sociais, mostrar que já tem um grupo de pessoas que o seguem, ter um padrinho ou madrinha no meio literário que o apresente e recomende.
Isso mais a qualidade pode atrair a atenção do editor.
Atuação do autor
Ter presença em redes sociais não é suficiente para ser um autor publicado. Às vezes a pessoa é uma celebridade na internet mas não tem nenhuma inspiração para escrever um livro, nenhuma pegada. A gente procura quem tenha alguma coisa mais, que tenha continuidade.
O escritor precisa fazer um corpo-a-corpo, como a Thalita Rebouças (de Fala sério mãe! e outros 15 títulos publicados pela Rocco, mais de um milhão de exemplares vendidos), a Bruna Vieira (Depois dos quinze e outros dois títulos publicados pela Gutemberg, mais de quatrocentos mil exemplares vendidos), a Paula Pimenta (de Fazendo meu filme e mais oito títulos, também passou de meio milhão de exemplares vendidos), que falam muito com suas fãs.
Elas escrevem sempre, tem conteúdo e vontade para muitos livros. Além disso elas respondem às leitoras, estão nas redes sociais, mantém blogs muito ativos. Vão a lançamentos, dão entrevistas, mantém fanpages com muitos seguidores.
A Bruna Vieira tem só dezenove anos mas mantém um blog de sucesso faz mais de cinco anos. Ela fala de amor, desilusão, roupas, viagens. A moça diz o que as leitoras querem ler, tanto que a fanpage dela tem mais de meio milhão de curtidas.
Depois que ela foi convidada a ser colunista da Capricho então os livros dela estouraram. Foi muito rápido do blog para os livros para a revista, tudo se alimentando e criando massa crítica.
O primeiro livro que publicamos dela teve tiragem de três mil exemplares, o mais recente já saiu com doze mil e esgotou em um mês…
Mas ela continua alimentando os leitores, mantendo contato, está sempre disponível.
Dá muito trabalho. As pessoas pensam que basta lançar o livro, que automaticamente ele vai para a livraria e todo mundo vai fazer fila para comprar. Não vão. A noite de autógrafos pode ser muito frustrante se o autor não tem a quem chamar.
Profissionalismo
O mercado editorial brasileiro é amador e os escritores brasileiros também, precisariam de bem mais profissionalismo.
A gente vê isso nas propostas de livros que chegam. Nos EUA e na Europa existem os agentes que fazem parte do trabalho, os manuais para apresentar uma proposal, então as pessoas já têm uma idéia de mercado.
Aqui a gente recebe materiais que nem nome do autor tem, a gente não pode jogar fora o envelope para não perder a informação de quem é.
Ninguém apresenta sua obra localizando o segmento ao qual ela pertence, com que obras ele compete, o que tem de originalidade.
As pessoas em geral não têm noção do que é publicar um livro, como funciona o mercado editorial. Acham que é como uma doceria onde você entra e encomenda um bolo. Elas perguntam: – Vocês fazem livros aí? Ou então querem falar com um autor, acham que ele mora aqui…
Falta conhecimento sobre o que significa ser publicado por uma editora maior, muito diferente de uma editora prestadora de serviço.
A gente tem uma fila de obras para analisar, tem tantas que a gente não consegue dar conta, fechamos o recebimento de originais no site e vamos reabrir só no ano que vem.
A gente analisa sim tudo o que chega, mas são dois mil originais nessa fila. Tem de tudo, claro, poesia, obras escritas a mão, algumas a gente tira da frente em dez segundos porque não têm nada a ver com a nossa editora.
Autopublicação
Eu olho os livros autopublicados. Primeiro observo as vendas, se houve um movimento bom e se é verdade o que o autor diz. Tem muita conversa… Para ser interessante o livro precisa ter vendido um ou dois mil exemplares em um ano.
O problema é que as redes de livrarias, como a Saraiva e a Cultura, guardam o histórico do autor. Uma edição independente ou por uma editora pequena pode “queimar o filme”, porque o que é bom para um autor independente é considerado um fracasso para uma livraria grande.
Esse histórico cria resistência no livreiro em aceitar uma nova obra daquele autor. A gente precisa ter uma razão para convencer o livreiro de que a aposta vale.
Ebooks
Nós olhamos os ebooks também, mas o livro precisa ter chamado atenção, caído no boca a boca, alguém indicar, ter tido muitos downloads. Mesmo entre os gratuitos da Amazon tem alguma coisa interessante, dou uma acompanhada.
Um caso desses foi o da Marcela Mariz, autora carioca de Os escolhidos de Gaia. Ela lançou um ebook em inglês pela Amazon e teve vinte mil downloads, um monte de comentários elogiosos e boas críticas de sites americanos.
Nós pensamos que valia a pena porque a qualidade do livro era bacana e ela tinha esse histórico internacional sendo uma brasileira.
Está dando certo, mas é sempre uma aposta. Não dá para garantir sucesso.
Nos sites brasileiros ainda não tem movimento suficiente para apontar verdadeiros favoritos.
Sites de fanfic
Dou uma olhada nos de temas juvenis para ver o que está acontecendo. Afinal, Crepúsculo saiu de um desses…
Ações pagas de autores autopublicados
Não chamam minha atenção. Talvez tenha alguma coisa, mas precisaria ser muito diferente para uma editora olhar.
Os autores gastam dinheiro a toa, esse tipo de ação – ir a bienais, colocar anúncios no Google – não dão retorno, ou não que eu perceba.
Agentes literários
Há os tradicionais, mas têm também uma gente nova, que está entrando no mercado e começando a trabalhar. Eles podem cumprir a função de ensinar o caminho das pedras para os autores estreantes. Falta muita informação, mas vejo um movimento. Não só de cursos de escrita como de novos agentes. A Marianna Teixeira Soares, da MTS agência de autores, por exemplo, tem enviado obras. Os autores tradicionais – Marisa Moura, Lúcia Riff, Luciana Villas-Boas – também.
É possível fazer sucesso sendo brasileiro, jovem, estreante, mas precisa ter a pegada e falar bem com os leitores. Uma das nossas apostas mais recentes é Bárbara Morais, autora de A ilha dos dissidentes, uma distopia.
A Bárbara sempre foi uma leitora voraz, faz parte do Clube do Livro de Brasília, adora organizar eventos literários e teve contos publicados em coletâneas.
Outra é Felipe Castilho, que tem dois livros que misturam aventura em ritmo de game com personagens folclóricos. Os leitores adoram. Se você conquista os leitores, as editoras publicam.
wender braido
17 de março de 2017 @ 18:20
Ola´boa tarde!
Bom,não tenho palavras para me expressar !
Vou dizer a vc,eu escrevi essa história,Que é um fato,não com intuito de publicar.
Mais em uma forma de desabafar meus sentimentos!
E quando vi já tinha escrito muita coisa e pensei que poderia virar um livro!
Estou desempregado,a tempos que nem bico faço e não tenho como publicar pois sem dinheiro não rola!
Eu acreditava que uma editora,avaliava e publicava!
E eu ganhava uma parte pelas suas vendas!
Pois para mim só em ser publicado já estava bom!
mais me enganei! voçê pode me ajudar?
Laura Bacellar
22 de março de 2017 @ 16:56
Wender,
isso é o que acontece quando uma editora tradicional, comercial, publica a sua obra. Portanto, procure uma editora.
Se o seu material não for aceito, tente entender de que forma torná-lo mais atraente para potenciais leitores e tente de novo as editoras.
É isso.
isaque baliza de azevedo
29 de abril de 2017 @ 11:04
não me reconheço um autor. apenas querendo expressar meus sentimentos pessoais, resolvi escrever a história de meus pais que eram camponeses e tiveram uma vida muito sofrida, vivendo numa tamanha pobreza, lutando pela sobrevivência de seus dez filhos. ao terminar meu rascunho, fiquei empolgado em edita- lo. não sei se fui feliz em colocar seu título como: “eramos doze”. não ficou uma historia grande, mais dá pra sair um livreto. O que você diria para mim?
Laura Bacellar
2 de maio de 2017 @ 19:55
recomendo a leitura desse post http://www.escrevaseulivro.com.br/escrevi-um-livro/ , comento suas alternativas agora que escreveu.
Luciano
8 de junho de 2017 @ 14:18
Eu tenho tentado me fazer conhecido escrevendo para um jornal, até que às vezes sou publicado, mas uma coluna de opinião com ae 1500 caracteres dis muito pouco sobre mim que gosto mais do gênero narrativo do que o dissertativo. Eu entendo porque o jornal não publica sempre os meus artigos: para não criar vínculo.
Laura Bacellar
10 de junho de 2017 @ 21:04
Escreva de maneira mais sistemática, faça um blog ou uma página do face, por exemplo. E aborde temas próximos do livro que vc escreveu ou pretende escrever.
Saulo Bueno
16 de janeiro de 2019 @ 19:44
Olá Sra. Laura, tudo bem?
Comecei a escrever em 2016 com artigos. Hoje tenho um blog onde publico textos dissertativos periodicamente, sou colunista de um jornal colombiano e de uma revista online em minha cidade (Lençóis Paulista – SP).
Além disso, mais dois jornais da região onde moro (Jaú e Lençóis Pta) publicam meus artigos todas as vezes que envio (uma frequência mensal, aproximadamente).
Para mim já é uma imensa conquista, pois sempre adorei escrever sobre diversos temas e tenho conseguido aperfeiçoar este hábito com as oportunidades que os jornais me concedem.
Saber que sou lido e que posso alcançar novos leitores me deixa imensamente grato. Mas sinto que tenho muito a melhorar e devo buscar algo mais. Já tenho a ideia de escrever meu primeiro livro, porém não sei por onde começar. Estou adorando as dicas em seu blog, espero logo poder colocar as ideias no papel e quem sabe ser publicado. Você me recomendaria algo?
Abraço,
Saulo
Laura Bacellar
16 de janeiro de 2019 @ 19:52
Saulo,
recomendo escolher um núcleo temático que seja muito impactante para seu público e abordá-lo de vários ângulos. Digamos, se vc fosse falar de depressão, poderia descrevê-la, seus efeitos, como as pessoa em volta a percebem, mitos, preconceitos e por aí vai. Escolha algo e vá um pouco mais fundo que artigos, para os leitores sentirem que vale a pena ler um livro a respeito.
Saulo Bueno
17 de janeiro de 2019 @ 09:56
Perfeito, Laura!
Muito obrigado pela dica. Vou pensar a respeito e começar os trabalhos!
Abraço!
Gilberto Albuquerque
10 de abril de 2019 @ 09:54
Olá Laura, tudo bem?
Você conseguiria o contato da Marianna Teixeira Soares da MTS Agência Literária, por gentileza?
Laura Bacellar
3 de junho de 2021 @ 13:37
vc vai ter que procurar. Minha toada sobre agentes é tão verdadeira que ela não deixa email fácil no site…
jose Fernando C. Gomes
3 de junho de 2021 @ 13:07
Olá, Sra. Laura.
Reconheço-a há muitos anos no mundo literário, semeando conselhos uteis para todos nós, principiantes, desejosos de mostrar não apenas para os leitores brasileiros, mas para o mundo um pouco mais de entretenimento ou experiencias validas para todos.
Há mais de tres decadas, quando funcionário no setor ambiental local amazonico, escrevi minha trilogia já algo reconhecida e elogiada em blogs e resenhas (vide google com o titulo UM ENIGMA NA AMAZONIA), e em algumas redes sociais como facebook, Instagram, Wattpad dentre outras.
Contudo, vejo que não é tão simples assim o “caminho das pedras”, já que as editoras tradicionais não vendem livros e, como as livrarias que também vendem ” espaços “, aquelas vendem autores estrangeiros renomados… e não, livros!
O que pretendo, além de divulgar minha obra que entendo-a como atual, originária e enigmática quanto ao tema ficcionário envolvido, é convidar o leitor a ” passear” pela amazonia e “viajar” ao Cosmos na companhia de amigos, inclusive, o protagonista alienigena principal ( risos)… e, assim, mostrar ao mundo que temos maravilhosas estórias de bons autores nacionais, que nada ficam a dever às estrangeiras.
Abraços e sucesso!
Zeca Paludo.
MELQUIDES PEREIRA NETO
18 de julho de 2022 @ 09:47
IMPORTANTE A DIVULGAÇÃO, POIS MUITAS PESSOAS ESCREVER MAS GUARDAM POR NÃO ENCONTRAR AJUDA, ORIENTAÇÃO E E APOIO.