Ideias demais
O que fazer quando temos ideias demais?
Muitos escritores mandam mensagens perguntando sobre como lidar com o excesso de idéias. Alguns começam histórias e não as terminam, outros escrevem quatro ao mesmo tempo, outros são assaltados por personagens e cenários interessantes e ficam entusiasmados mas perdidos.
Pedem que eu dê dicas para ordenar esse rio de imagens.
Ter uma imaginação fértil é pre-requisito para escrever, não há dúvida. Escritores de todas as épocas contam como conviveram com seus personagens, foram tomados por suas histórias, quase que entraram em realidades alternativas para escrever.
Faz parte do processo criativo essa imersão, assim como a ativação das possibilidades, da fantasia, dos quase delírios mesmo.
No entanto, isso é parte do processo, não o processo em si
Um jovem cineasta que lançou seu terceiro curta recentemente, Alexandre Ingrevallo, deu uma entrevista em que falou o seguinte: se você está produzindo algum texto, seja de teatro, de cinema – e eu acrescento aqui literatura –, não basta imaginar algo legal, bonitinho.
Você tem que ter uma história para contar. E você tem que ter uma razão muito boa para contar aquela história. Ela precisa ser importante para você e diferente do que os outros dizem.
Eu achei perfeito. Não basta você se encantar com um personagem ou um cenário ou achar que consegue criar uma narrativa movimentada com embates bacanas. Isso pode ser encantador (por um momento), mas perde a força porque não tem alma.
Você precisa ter algo a dizer. Algo que mude o mundo (ainda que só um pouco), algo que seja bastante distinto do que já foi contado pelos outros. Algo que venha de dentro de você e de ninguém mais, algo que para você faça muita diferença.
Esse senso de importância, a noção de que para você, individualmente, aquela história ou aquele tema ou aquela abordagem faz muita diferença, é o que norteia a fantasia. As imagens e personagens então obedecem o principal, aquilo que você quer contar e acha essencial.
O primeiro passo para lidar com o excesso de idéias, então, é olhar para dentro de si e ver o que realmente importa para você. E só depois partir para delinear a história ou o texto.